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Ex-presidente do Peru tenta suicídio depois de receber ordem de prisão no caso Odebrecht.

Ex-presidente do Peru tenta suicídio depois de receber ordem de prisão no caso Odebrecht.

Alan García, que atirou contra a própria cabeça, é um dos quatro ex-chefes de Estado do país acusados de ter recebido suborno da empreiteira brasileira

LIMA – O ex-presidente do Peru, Alan García, está internado depois de ter atirado contra a própria cabeça diante de uma ordem de prisão preventiva emitida pela Justiça, confirmou seu advogado, Erasmo Reyna. García, de 69 anos, foi levado para o hospital Casimiro Ulloa, que confirmou que a causa da internação foi um ferimento na cabeça. O estado dele é crítico, segundo a ministra da Saúde, Zulema Tomás Gonzáles.

García é um dos dos quatro ex-chefes de Estado do Peru investigados sob a acusação de terem recebido suborno da construtora brasileira Odebrecht. A Justiça havia ditado sua prisão preventiva por dez dias.

— Nesta manhã ocorreu este lamentável acidente: o presidente tomou a decisão de atirar em si mesmo — disse a jornalistas o advogado Erasmo Reyna, na porta do Hospital de Emergências Casimiro Ulloa, em Lima.

O secretário pessoal de García, Ricardo Pinedo, confirmou que o ex-presidente entrou em seu quarto depois de ser informado que um promotor batia à porta de sua casa, informou o jornal “La Republica”, de Lima. Segundo a TV local America, García agora está em coma. A situação do ex-presidente “é delicada”, disse o advogado.

— Neste momento, ele está sendo operado. Rogamos a Deus que lhe dê força — ressaltou Erasmo Reyna.

Orador habilidoso que liderou por décadas um partido tradicional do Peru, o Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana), García governou o Peru como um nacionalista de 1985 a 1990 antes de se reinventar como um defensor do livre mercado e ganhar um novo mandato de cinco anos em 2006. No ano passado, García solicitou asilo político no Uruguai depois de uma ordem judicial que o proibiu de sair do Peru, para evitar que fugisse ou interferisse nas investigações do caso Odebrecht, mas Montevidéu não aderiu à tese de perseguição política e rechaçou a solicitação.

— Se estou impedido de sair do país já é uma forma de prisão. Já não posso ir a nenhuma conferência, não possa assistir a nenhuma reunião (…) Estou, de alguma maneira, atado — disse recentemente Alan García, segundo o “La Republica”.

Além de García, que responde na Lava-Jato peruana por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, a investigação sobre subornos da Odebrecht no Peru envolve também os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018). Todos estão sob investigação do Ministério Público peruano. Kuczynski  foi preso preventivamente por dez dias no início deste mês.

Todos estão sob investigação do Ministério Público peruano. Toledo, que supostamente recebeu US$ 20 milhões da empreiteira pela construção de uma rodovia, vive nos Estados Unidos.

O escândalo também salpicou nas ex-candidatas Lourdes Flores e Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), em prisão preventiva desde 31 de outubro.

A ordem judicial de detenção desta quarta-feira também afeta outras oito pessoas: o ex-ministro de Transportes Enrique Cornejo, Luis Nava, seu filho José Antonio Nava, Miguel Atala, seu filho Samir Atala, Oswaldo Plasencia Contreras, Jorge Menacho e Raúl Antonio Torres.

Em fevereiro, a Odebrecht assinou um acordo de cooperação com a Procuradoria peruana em São Paulo para ampliar as investigações sobre contribuições ilícitas eleitorais.

Ficou então definido que a Odebrecht teria que pagar cerca de US$ 182 milhões como compensação civil aos peruanos, com base em quatro licitações que venceu mediante o pagamento de subornos a autoridades locais. A empreiteira já admitira em 2016 que havia pagado propinas na casa dos US$ 29 milhões entre 2005 e 2014 no país.

Em sua declaração, na ocasião, a empresa brasileira ressaltou que o Peru é o oitavo país com o qual chega a um acordo. Negociações semelhantes ocorreram com o Brasil, os Estados Unidos, a Suíça, a República Dominicana, o Panamá, o Equador e a Guatemala.

Em dezembro, o presidente peruano, Martin Vizcarra,  rejeitou a possibilidade da continuação das operações da Odebrecht   no país, sob a alegação de que as práticas corruptas da empresa provocaram sérios estragos. Vizcarra assumiu a Presidência em 2018 depois da renúncia de Pedro Paulo Kuczynski, que sofria uma ameaça de impeachment. Apesar das críticas, Vizcarra afirmou que respeita o pacto dos promotores com a Odebrecht.

Da redação com O Globo e agências internacionais

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